Atividades na Educação Infantil - Creches

O período da criança na educação infantil é um período de formação de hábitos, portanto as atividades não são de escolaridade, mas sim, baseadas nas necessidades intrínsecas das crianças dessa idade: atividades que são repetidas diariamente, respeitando um ritmo diário, onde há uma rotina, um respeito pelas fases evolutivas da criança; onde há um ritual de respeito para com ela, de bondade, de gratidão e de beleza.

E quais são essas necessidades?

Em primeiro lugar são as necessidades afetivas. Estar vinculada a um adulto de referência nos três primeiros anos de vida da criança possibilita-lhe o desenvolvimento do sentimento de ser aceito, de confiança, necessidade fundamental no ser humano.

Em segundo lugar é o desenvolvimento do sentido de pertencimento, tanto em referência ao adulto que a educa quanto ao lugar que está inserida. Este lugar deve ser o tanto quanto possível estável em relação às pessoas que nele circulam quanto aos objetos nele contidos. Estar todos os dias com os mesmos adultos, no mesmo espaço e com os mesmos objetos, gera um sentimento de segurança na criança e estabilidade emocional (que é primordial desenvolver nessa fase da vida).

Depois das necessidades afetivas vem o desenvolvimento da autonomia. A princípio, este vem com a dedicação do adulto em fazer e demonstrar à criança como se adquire os hábitos de higiene, alimentação e vestuário; lembrando sempre que a criança é um grande imitador. Portanto o adulto deve dar o exemplo para depois exigir da criança uma postura autônoma adequada. A criança precisa de exemplos dignos de serem imitados. Sejamos nós os primeiros a dar o exemplo daquilo que queremos que a criança faça. Para isso a autoeducação é fundamental.

As atividades na educação infantil (que não é ensino fundamental) deveriam ser as mesmas que a criança teria se estivesse em casa. Como por exemplo:

– Liberdade de movimentos. A criança está aprendendo a se coordenar, por isso seu impulso primordial é de liberdade. Para isso requer espaço amplo e livre de perigos onde possa se deitar, rolar, arrastar, engatinhar, andar, correr, pular, subir, descer, enfim, fazer todo tipo de movimento necessário para trabalhar sua coordenação motora, seu equilíbrio e sua orientação espacial. Esses requisitos são a base para a escolarização, portanto não podem ser suprimidos e reprimidos na educação infantil.

– Vivências com objetos de uso caseiros, onde a coordenação motora corporal, manual e viso motora se desenvolvam plenamente, sempre com a supervisão e atenção do adulto de referência. Lembrando que se a criança estivesse em casa o que teria no ambiente familiar? Um sofá, uma cadeira, um colchão, umas panelas, umas bacias, alguns panos, uma escada, uma caixa, um vasilhame onde coisas dentro podem ser colocadas e retiradas, uma bola, enfim, objetos comuns e rotineiros que lhe permitem desenvolver as habilidades que necessitam nessa fase da tenra infância.

– Supervisão e atenção constante do adulto de referência a qual se vincula e espera diariamente que seja o mesmo todos os dias. Esse adulto ela espera e confia inconscientemente que lhe seja um exemplo para sua educação, que saiba quais são suas necessidades básicas, que lhe dê atenção e afeto suficientes e que esteja pronto para eventuais emergências que possam ocorrer durante as atividades livres e/ou dirigidas.

Levando em consideração que a criança pequena está se educando e aprendendo sobre o mundo através do ser humano que está a sua frente, do ambiente em que vive e dos seus órgãos de percepção (tato, audição, olfato, gustação e visão), cabe ao educador propiciar um ambiente favorável a essa educação. Por exemplo:

– O adulto educador necessitará ter o conhecimento das fases evolutivas da criança, visto que cada etapa de seu desenvolvimento requer atitudes precisas e específicas do educador. Conhecer as peculiaridades de cada fase, aspectos de seu desenvolvimento físico e principalmente emocionais ajuda na maior compreensão da criança e respeito à infância.

– O material dos objetos e brinquedos em contato com a criança devem revelar um sentido de verdade e beleza. Como exemplo temos o que a natureza nos oferece: madeira, bambu, sementes, cascas de coco, panos de algodão, de seda, paina, vime, sisal, cipó, conchas, pedras, palha, água, terra, folhas, areia, troncos, galhos, cabaças... A variedade de texturas, pesos, formas, tamanhos, temperatura dos objetos, colaboram para o enriquecimento da vivência do sentido do tato.

– Diferentes sons como da fala do adulto, do canto dos pássaros, das cigarras, da água, da chuva, dos objetos sendo chacoalhados, batidos; tudo isso colabora para o desenvolvimento do sentido da audição. Cantar para a criança sempre é mais educativo do que colocar músicas num aparelho eletrônico. A voz humana é necessária para o aprendizado da fala e para a sensibilidade afetiva que emana da voz verdadeira.

– Nos olhos existem músculos que precisam ser trabalhados para um bom desenvolvimento da visão. Além da qualidade daquilo que está sendo visto pelas crianças, o educador deve permitir que esses olhos tateiem e explorem todo o ambiente e objetos pertencentes ao local onde a criança frequenta. Olhar perto e longe, em cima e embaixo, na direita e na esquerda favorece o desenvolvimento dos músculos dos olhos com habilidade e flexibilidade. Só deveriam estar num ambiente da criança aquilo que faz sentido para ela, onde a verdade e a beleza pudessem estar presentes.

– Como todos os sentidos, o olfato também tateia. Nesse sentido, estar na presença de cheiros naturais e reais ajuda a desenvolver o sentido do olfato. Exemplos: cheiro das comidas, das flores, da terra molhada, da madeira.

Quanto aos brinquedos, estes devem desenvolver na criança além de coordenação motora, viso motora e habilidades manuais, a segurança, confiança, a alegria e o bem-estar.

Sugestões de alguns brinquedos: latas, bolas, tocos, bambus, bacias, caixas, caixotes, pedaços de pano, carrinhos, caminhões, carriolas, bonecas, panelas, cabos de vassoura, argolas, cascas de coco, cabaças, balanço, gira-gira, trepatrepa, escorregador, cavalinho de balanço, chocalho, caxixe, tamborzinho, bate-estacas.

Finalizando, a criança aprende através da imitação e da repetição. Além do seu impulso volitivo para a ação, o adulto que a educa deve estar sempre presente e atento para educa-la naquilo que é permitido ou não para seu desenvolvimento físico, emocional e cognitivo. A constância das atividades é fundamental na aquisição de hábitos e desenvolvimento das habilidades.

Pilar Tetilla Manzano Borba

Terapeuta Ocupacional, Pedagoga Waldorf
Pós-graduada em Antroposofia na Saúde pela UNISO
Professora no curso de fundamentação em pedagogia Waldorf
Orienta berçários, creches, maternais e jardins de infância
E-mail: pilarborba@gmail.com

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