Limites na Educação

Assim como a água para formar um rio necessita de margens, a criança necessita de adultos que lhe ensine os parâmetros para se tornar efetivamente humana e viver uma vida socialmente adequada. Uma criança não nasce sabendo; precisa ser educada e esse papel cabe aos pais.

Cada vez mais está sendo delegado à escola a educação dos filhos, mas a escola por melhor que se esforce não tem o vínculo afetivo que a família possui e assim consegue muito pouco na colocação de limites educacionais.

Os pais são as bordas desse rio-criança por muitos anos, até que nasça nela a consciência e o controle dos impulsos volitivos, os quais são muito fortes na tenra infância. Como diziam nossos avós: "é de pequenino que se torce o pepino".

Os pais são responsáveis em colocar os limites, os parâmetros, as regras, para que a disciplina ocorra. A disciplina, junto com os limites, é que vão formar o caráter da criança e determinar sua personalidade. Segundo o dicionário Aurélio, a disciplina é a submissão a um regulamento, é autocontrole.

Toda criança é hedonista por natureza, isto é, busca espontaneamente aquilo que lhe dá prazer, que satisfaz seus desejos, sua curiosidade e suas necessidades. Imatura ainda em sua consciência, a criança não tem a capacidade de se colocar no lugar do outro. Estando na fase do egocentrismo, é incapaz de pensar ou sentir pelo outro. Até os 3, 4 anos a criança está voltada para si e não divide nada com ninguém, pois a consciência do outro ainda não chegou e isso depende do amadurecimento do sistema nervoso central que leva muito tempo para ficar maduro (21 anos!).

Por ser a criança pequena movida por impulsos volitivos muito fortes que ela ainda não controla, sozinha ela não é capaz de frear suas vontades, birras e teimosias. Por essa razão é que necessita do adulto para educá-la. Aos pais cabe ir mostrando à criança o que pode e o que não pode, e como pode, porque sim e porque não (de maneira econômica). Ensinar e não explicar. Lembrem-se de que ela ainda não tem consciência para raciocinar e é́ por essa causa que devemos repetir mais de mil vezes a mesma coisa. Estabelecer limites aos filhos não é tarefa nada fácil, demanda muita paciência e firmeza dos pais, pois nesse mundo da pressa e do consumo desenfreado tudo é para ontem e as ofertas ao nosso redor não cessam de acontecer…

Os pais necessitam de intuição, conhecimento, firmeza, coerência, consistência, paciência, perseverança, e, acima de tudo necessitam amar seu filho. POR LIMITES É UM ATO DE AMOR.

Cabem aos pais, com amor e determinação, sinalizar o que é correto (aceito socialmente, convencionado); sendo necessário muitas vezes que segure sua criança firmemente, olhando-a em seus olhos e com calma e firmeza dizer "isso não pode" fazer. Tudo na vida tem limites e sentir frustração e raiva faz parte da educação.

A criança educada num ambiente de amor e de parâmetros cresce com segurança e confiança, pois a falta de limites na educação torna a criança insegura, confusa, com dificuldades na socialização e na aprendizagem escolar, e muitas vezes, déspota. Com autoridade e amor ajudamos a desenvolver na criança o autocontrole, o caráter, a consciência, as regras, o limite, a disciplina e a obediência às normas e leis.

Por amor aos pais, a criança obedece e aprende a controlar seus impulsos e sua raiva. É preciso que ela sinta que seus pais ficaram aborrecidos com sua atitude inadequada. Precisa ficar claro para a criança que aquilo que ela fez desagradou, feriu ou entristeceu seus pais. Dessa forma, por querer e necessitar de seu amor e compreensão, a criança tentará cada vez mais se controlar e agir de forma correta e aceitável.

Padrões de comportamento, desenvolvimento social, inibição dos impulsos e anseios não se desenvolvem sozinhos. É preciso ensinar tudo isso à criança. E não é nada fácil desagradá-la, frustrá-la, impedi-la, mas essa é a função dos pais: a de dar um "norte", um rumo, um leito seguro e um solo firme porque na vida tem-se que estar seguro e confiante para poder enfrentar todas as vicissitudes que porventura surgirem.

Muitos pais têm dificuldades em impor limites aos filhos porque eles próprios não os têm. Bebem e comem demais, correm demais, trabalham demais, consomem demais, estão 'plugados' na mídia demais etc. Também, muitos pais não dão limites por sentirem-se culpados por não estarem mais presentes na vida dos seus filhos e acharem que se os repreenderem, nos poucos momentos que estão juntos, serão menos amados por eles.

Mas, uma coisa é certa: se os pais não derem limites aos seus filhos, não se ocuparem efetivamente da educação deles, outros se ocuparão em fazê-lo, como os programas de televisão/YouTube, os videogames, o consumismo, as más companhias etc. Afinal, o filho é de quem? 

 

Sugestão bibliográfica:
LIMITES SEM TRAUMA, Construindo Cidadãos, Tania Zagury, Editoria Record
EDUCAR SEM CULPA, Tania Zagury, Editora Record
FILHOS: MANUAL DE INSTRUÇÕES, Tania Zagury, Editora Record
ESCOLA DE PAIS, Para Que Seu Filho Cresça Feliz, Luiz Lobo, Editora Lacerda
A SOCIEDADE DOS FILHOS ÓRFÃOS, Sergio Sinay, Ed. BestSeller
PAIS OCUPADOS, FILHOS DISTANTES, Gordon Neufeld & Gabor Mate, Editora Melhoramentos
MOSTRAS CAMINHOS, Prevenção ao Abuso de Drogas e Recuperação, Jose Neube Brigagão , Edições Loyola

MIDIA E VIOLÊNCIA, Heinz Buddemeier, Editora Antroposófica
COMPREENDENDO SEU FILHO DE ...ANOS, cada idade um volume, Clínica Tavistock de Londres, Ed. Imago

Pilar Tetilla Manzano Borba

Terapeuta Ocupacional, Pedagoga Waldorf
Pós-graduada em Antroposofia na Saúde pela UNISO
Professora no curso de fundamentação em pedagogia Waldorf
Orienta berçários, creches, maternais e jardins de infância
E-mail: pilarborba@gmail.com

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