Qual a melhor idade para a entrada no primeiro ano do ensino fundamental?

Muito tem se falado sobre a entrada da criança no primeiro ano escolar com seis anos incompletos. Muitos pais e escolas alegam que as crianças irão perder um ano permanecendo mais tempo na educação infantil. Perder um ano de serem crianças, de brincar? Não posso entender como isso passa pela cabeça de um educador.

O que pais e profissionais da educação e do direito conhecem sobre desenvolvimento infantil? Qual a importância que dão ao período da infância?

Tendo percebido que as dificuldades de aprendizagem, os problemas de comportamento, a chamada criança hiperativa, aumentam a cada dia e que as crianças estão cada vez mais doentes, tristes e deprimidas, senti a necessidade de escrever esse artigo.

Como profunda estudiosa, observadora e pesquisadora da infância, sempre proferindo cursos e palestras sobre o desenvolvimento infantil, me deparei hoje, novamente, com o livro de Steve Biddulph, editora Fundamento, 2004, intitulado “Criando Meninos”, e tomo a liberdade de transcrever o trecho da página 60: “Aos seis ou sete anos, quando realmente começa a escolaridade, o desenvolvimento mental dos meninos está seis a doze meses atrasado em relação ao das meninas. Eles são especialmente pouco desenvolvidos no que chamamos de “coordenação motora fina”, que é a capacidade de usar os dedos para segurar uma caneta ou tesoura. Como ainda estão no estágio do desenvolvimento dos grandes músculos, ficam loucos para exercitá-los e não são muito bons em ficar sentados quietinhos. [...] Os meninos deveriam esperar mais um ano. [...] Os meninos deveriam ficar mais tempo no Jardim de Infância – em alguns casos, mais um ano”.

O livro continua fundamentando essa imaturidade no desenvolvimento neurológico do cérebro e a necessidade da criança ainda se movimentar muito antes de ficar sentada, parada na carteira escolar.

Todo e qualquer professor do primeiro e segundo ano do ensino fundamental observa que os alunos não param quietos. Essa atitude fica esclarecida quando aprendemos que nessa idade a criança ainda está adquirindo coordenação motora e aprendendo hábitos sociais; e, para permanecer parada e quieta ela precisa ter maturidade orgânica. Uma fruta não amadurece por nossa vontade. Ela tem seu próprio tempo de amadurecimento tal qual a flor para seu florescimento.

Por que apressarmos a criança encurtando o período da infância?

Outro livro que ora se encontra em minhas mãos versa sobre a saúde e a doença: “Medicina Antroposófica” de Victor Bott, da Associação Beneficente Raphael, Juiz de Fora, MG, 1984. Na página 25, ele diz o seguinte: “Há um exemplo, infelizmente muito frequente hoje em dia, desta retirada precoce das forças etéricas (forças vitais): a escolarização precoce, levando a um desenvolvimento intelectual antes que as forças etéricas normalmente estejam disponíveis. É perfeitamente possível apelar prematuramente a essas forças a fim de apressar o desenvolvimento intelectual; é precisamente aí que está o perigo, porque esquecemos que esta retirada precoce das forças etéricas se faz em detrimento da saúde, mesmo que as conseqüências não apareçam de imediato. As repercussões podem surgir muito tempo depois e se manifestam freqüentemente ao longo de toda a existência”.

A questão que coloco aqui é a seguinte: o que se pretende com essa aceleração precoce, com esse encurtamento do período da infância das crianças? Entrar mais cedo na faculdade? Haverá maturidade para isso? Outra observação: entrar cedo na faculdade faz com que desistam mais cedo dela também porque na época da escolha da carreira ainda não estão suficientemente amadurecidos para isso. Tudo tem seu tempo certo. Vamos procurar aprender com a mãe Natureza.

Pilar Tetilla Manzano Borba

Terapeuta Ocupacional, Pedagoga Waldorf
Pós-graduada em Antroposofia na Saúde pela UNISO
Professora no curso de fundamentação em pedagogia Waldorf
Orienta berçários, creches, maternais e jardins de infância
E-mail: pilarborba@gmail.com

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