Movimento, Educação e Aprendizagem

Trabalho como terapeuta ocupacional desde 1976. Meu trabalho com crianças sempre foi através de jogos, brincadeiras e brinquedos.

O brincar é inerente à criança. Ela possui uma necessidade enorme de se movimentar e o brinquedo propicia esse movimento. É através do movimento que ela se percebe, e percebendo-se, adquire noção de seu corpo, formando assim uma imagem corporal e consequentemente seu esquema corporal.

Os brinquedos ajudam-na nesse movimento interno (imagem corporal) e externo (esquema corporal). Brincando, percebe o espaço circundante adquirindo noções espaciais de frente, atrás, em cima, embaixo, dentro, fora, esquerda e direita. Brincando com os mais diversos tipos de materiais, adquire e incorpora as qualidades dos materiais como: noções de duro/mole, leve/pesado, liso/rugoso, grande/pequeno, redondo/quadrado/pontudo, cores, temperaturas etc.

Ao brincar com simples tocos de madeira ela os alinha em linha reta, em linha curva, os empilha, constrói casas, estradas, morros, piscinas, rios e uma infinidade de coisas que passam por sua imaginação e fantasia. Todas essas noções que a criança adquire durante a fase do brincar livre ela incorpora, registra, e tudo isso irá colaborar na aquisição do conhecimento posterior no período escolar. A flexibilidade que o brincar promove leva à flexibilidade do pensar. Pais e educadores que entendem isso deixam suas crianças brincarem muito.

Crianças que têm a oportunidade de brincar muito na infância se mostram na fase escolar bem mais calmas na movimentação corpórea em sala de aula e bem mais atentas e concentradas na aula. A hiperatividade hoje tão frequente no ambiente das salas de aula pode ser fruto de uma infância onde as crianças são obrigadas a ficar em cadeirinhas e mesinhas desde a mais tenra idade, o que as impede de movimentar suficientemente e exaustivamente seus corpos, explorar o espaço e vivenciar realmente as coisas ao seu redor.
O ensino intelectual precoce das crianças está lhes causando toda sorte de problemas, exatamente porque não respeita as necessidades primordiais e intrínsecas delas. O brincar por sua vez respeita essas necessidades.

 

*Terapeuta Ocupacional, Pedagoga Waldorf
Pós-graduada em Antroposofia na Saúde pela UNISO
Professora no curso de fundamentação em pedagogia Waldorf
Orienta berçários, creches, maternais e jardins de infância
E-mail: pilarborba@gmail.com