Porque não explicar tudo para a criança pequena
O ser humano leva 21 anos para adquirir maior consciência das coisas. Esse tempo é o tempo que o sistema nervoso central leva para mielinizar todas as células nervosas, isto é, amadurecê-las. Essa bainha de mielina é a responsável pelas conexões nervosas (sinapses) entre os neurônios.
Ter consciência significa fazer as sinapses entre os neurônios. Nas sinapses há um dispêndio de energia muito grande. Por isso que quando prestamos muita atenção em algo ou quando usamos por demais nossos órgãos dos sentidos (percebendo cores, formas, cheiros, sabores, sons, texturas...) nos sentimos cansados. À noite necessitamos dormir para repor essa energia gasta durante o dia de vigília, de atenção a tudo que nos cerca.
Em antroposofia (ciência na qual se baseia a pedagogia Waldorf) costumamos dizer que nos sete primeiros anos o corpo da vida (orgânico, vital ou etérico) da criança está sendo plasmado, formado. Seus órgãos ao nascer não estão de todo amadurecidos, e para que esse amadurecimento ocorra é necessário ter saúde, energia, vitalidade. Lembrando sempre que consciência é gasto de energia, é queima de substância cerebral.
O cérebro também é um órgão e ele é a base para o entendimento, para a cognição, para o pensamento. Nos três primeiros anos da criança ocorre a maior formação do cérebro. Se a criança então está formando cérebro para pensar como é que ela já pode usá-lo pensando, entendendo o que queremos que ela entenda? Não se cozinha feijão numa panela que ainda está sendo feita! Nem se dá feijoada para um bebê!
Levando em consideração que a atividade fina exige uma maior elaboração cerebral, uma maior atenção, uma precisão da coordenação motora fina, por que lhe oferecer um lápis ou uma agulha? Se ela ainda não se administra diante dos perigos, por que lhe dar uma tesoura ou a faca?
Outros órgãos como o fígado, pulmões, coração, rins, estão amadurecendo também e quando exigimos da criança que aprenda algo com a cabecinha, ou entenda as coisas como nós queremos que ela as entenda, estamos fazendo com que ela use essas forças formativas que estão plasmando os órgãos para a compreensão e o entendimento e aí nós as desvitalizamos.
A pedagogia Waldorf, por estar baseada numa ciência antroposófica, preocupada em formar seres humanos saudáveis, verdadeiros e livres, é totalmente contra a antecipação das fases de aprendizagem e, sobretudo, da alfabetização precoce. Essa pedagogia prima por excelência pela saúde física, emocional, mental e espiritual da criança e do adolescente, respeitando principalmente sua individualidade e seu período de desenvolvimento.
Hoje, com essa absurda escolarização precoce, as crianças de um modo geral estão muito doentes. É comum vermos crianças deprimidas, tristes, queixando-se de dores de barriga, dores de cabeça, cansadas, aborrecidas, apáticas... O que estamos fazendo com nossas crianças?
As crianças aprendem pelo movimento, pelas percepções, imitação e pela repetição. Se quiser que ela atenda uma ordem faça o que quer que ela faça: coma com a boca fechada se quer que assim o aprenda, fale mais baixo, feche a porta sem bater, escove os dentes com a torneira fechada, seja carinhoso com ela, e assim por diante. Na infância as crianças aprendem mais pela imitação do que pela palavra; aprende pelo exemplo e não pelo sermão ou pela explicação detalhada. É óbvio que precisamos conversar com ela desde cedo para que aprenda o que é certo e errado, mas devemos saber o que falar, o quanto falar e principalmente o que não falar.
Deixe que a criança descubra o mundo por si mesmo, vivenciando-o, experimentando-o, incorporando-o e, sobretudo, aprendendo ao vivo e não através de uma tela. Promova-lhes as oportunidades. Quanto mais a criança descobrir por si mesma, através do movimento, do equilíbrio e dos seus órgãos dos sentidos, mais conexões nervosas fará e, quanto mais sinapses ela tiver feito na infância por esforço dela mesma, mais substrato no cérebro ela terá para a aprendizagem posterior cognitiva.
Referências bibliográficas:
A Arte de Educar Baseada na Compreensão do Ser Humano, Rudolf Steiner, Editora Antroposófica;
A Pedagogia Waldorf, Rudolf Lanz, Editora Antroposófica;
A Educação Waldorf, Helmut von Kügelgen, Editora Antroposófica;
Inteligência Emocional, E. Beauport & A. S. Diaz, Editora Teosófica, Brasília.
*Terapeuta Ocupacional, Pedagoga Waldorf
Pós-graduada em Antroposofia na Saúde pela UNISO
Professora no curso de fundamentação em pedagogia Waldorf
Orienta berçários, creches, maternais e jardins de infância
E-mail: pilarborba@gmail.com

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