O uso do espelho por crianças pequenas
A criança se desenvolve através dos seus órgãos dos sentidos, do movimento (propriocepção) e do sentido do equilíbrio.
Os olhos até quatro anos estão desenvolvendo seus músculos para a percepção tridimensional do mundo circundante. São três pares de músculos, a saber: um par que faz o movimento ocular da direita para a esquerda e vice-versa; um par que faz o movimento de cima para baixo e vice-versa; e um par que faz o movimento de perto e longe e vice-versa. Dessa maneira de trabalhar os músculos oculares é que a criança registra a tridimensionalidade do mundo circundante.
Diante de um espelho, a criança, principalmente nos primeiros anos da infância, não tem a chance de trabalhar o terceiro par de músculos, aquele que faz o movimento de perto-longe, pois o espelho dá uma sensação de profundidade ilusória e não real, não permitindo à criança vivenciar essa profundidade verdadeiramente.
Vivemos num mundo real e concreto onde a tridimensionalidade faz parte e deve ser vivenciada na infância uma vez que no futuro, numa educação posterior, a criança terá que lidar com um sistema bidimensional como, por exemplo, a escrita e as telas.
O sentido do tato, além de ser percebido pela pele, também é percebido pelos músculos de todo o corpo, principalmente pelos músculos que compõem a estrutura da mão. Ao pegar ou agarrar um objeto a criança desenvolve a propriocepção que é a sensação própria de perceber o que está sendo agarrado, como a temperatura, a textura, a forma, o peso e o volume dos objetos. Esses registros no cérebro são de suma importância na aprendizagem escolar posteriormente. Diante de um espelho essa sensação e percepção não ocorrem, visto que a imagem é virtual e ao tocar o espelho a criança não faz uso desses recursos táteis.
A imagem vista no espelho também não emite odor, portanto o tatear olfativo não ocorre. O mesmo acontece com o sentido gustativo. A criança até coloca a boca no espelho, mas o que sente é uma sensação gelada, fria. Na realidade, o ser humano tem uma temperatura quente e não gelada enquanto está vivo. Ao interagir com o espelho, a criança não consegue agarrar e saborear o que vê, o que para ela gera uma grande frustração.
O desenvolvimento da imagem corporal, e posteriormente o desenvolvimento de seu esquema corporal diante de um espelho, fica totalmente ausente, pois estas ocorrem na vivência e movimentação real do corpo no seu entorno concreto de objetos com texturas, formas, cheiros, sabores etc. O espelho não permite esses registros corporais e perceptivos, pois ele traz uma imagem totalmente virtual.
Pilar Tetilla Manzano Borba
Terapeuta Ocupacional, Pedagoga Waldorf
Pós-graduada em Antroposofia na Saúde pela UNISO
Professora no curso de fundamentação em pedagogia Waldorf
Orienta berçários, creches, maternais e jardins de infância
E-mail: pilarborba@gmail.com
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